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A BIT OF ILLUSION

., 1980

Production design: Mazola, Cayon Gadia e Toquinho
Art direction: Mazola
  • Escravo da alegria

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    E eu que andava nessa escuridão
    De repente foi me acontecer
    Me roubou o sono e a solidão
    Me mostrou o que eu temia ver
    Sem pedir licença nem perdão
    Veio louca pra me enlouquecer
    Vou dormir querendo despertar
    Pra depois de novo conviver
    Com essa luz que veio me habitar
    Com esse fogo que me faz arder
    Me dá medo e vem me encorajar
    Fatalmente me fará sofrer
    Ando escravo da alegria
    E hoje em dia, minha gente, isso não é normal
    Se o amor é fantasia
    Eu me encontro ultimamente em pleno carnaval
  • Oilá!

    Vinicius de Moraes, Mutinho

    Oilá,
    Sou eu
    Trazendo o silêncio das ruas,
    A noite, os ruídos de um bar.
    Vem cá,
    Vem ver
    O pranto, a amargura e as delícias
    Que eu vim repartir com você,
    Que eu vim repartir com você,
    Que eu vim.

    Um dia eu saí pelo mundo
    Pensando que tudo era meu,
    Chegando a viver num segundo
    O amor que o poeta escreveu.

    Vivendo momentos felizes,
    Amando é que eu vim perceber
    Que todos os caminhos do mundo
    Me levam de volta a você.
  • Valsa do bordel

    Toquinho

    Longas piteiras
    Perfumes no ar
    Roxas olheiras
    Em torno do olhar

    Que brincadeira
    Fazer profissão
    Da mais antiga e
    Mais sem solução

    Discos franceses
    Tão sentimentais
    Velhos fregueses
    Com taras iguais

    Ah, quem me dera voltar para trás
    Sem sentir mais tanta solidão
    E, de repente, entre tanto cliente
    Lá chega o gostosão
    E, incontinênti, abre conta corrente
    Em nosso coração

    A gente apanha
    Mas sente prazer
    Dá o que ganha

    E o que se vai fazer?
    Ele é a paixão, todo resto é saber
    Vender um pouco de ilusão

    E um dia assim
    Como quem faz porque acontece
    Num abraço ela me desse
    A esperança de poder dizer-lhe adeus
  • Samba para Endrigo

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Quando eu chego ao Rio 
    Eu me arrepio 
    De ver tanta coisa linda 
    Solta no ar. 
    Eu que vim do frio, 
    Me delicio 
    A ponto de ter vontade 
    De não voltar. 

    Cada um na rua 
    É um rei na sua 
    Maneira tão popular. 
    Sou tão batuqueiro 
    Quanto qualquer 
    Tocador de pandeiro é. 
    Sou tão mandingueiro, 
    Tão brasileiro 
    Quanto um cidadão qualquer. 

    Mas afinal 
    Até que eu não sou mau de bola, 
    Mas não sei sambar na escola, 
    Nem sou bom de ginga, não. 
    Mas a questão para mim 
    É que ser sambista 
    É mais do que um bom passista 
    Bem mais do que um folião.

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Minha luz apagou

    Toquinho, Quico

    Minha luz se apagou,
    Não posso mais.
    Esse mal perturbou
    A minha paz.

    Quem na dor de um sofrer
    Desencontros viveu,
    Logo vai compreender
    O pranto meu.

    Consumir tanta dor,
    Sem me trair.
    Como um sol sem calor
    Vou me sentir.

    Quem provou sem querer
    E parou como eu,
    Logo vai compreender
    O pranto meu.

    Não há mais nada em meu viver.
    Eu não posso aceitar essa verdade
    Nem fugir do que me faz realidade.

    Só me resta esperar e despedir: adeus.
    O meu dia anoiteceu, e eu
    Vou ficar com esse pranto meu.
  • Até rolar pelo chão

    Vinicius de Moraes, Mutinho

    Não quero entrar
    Para não ter que sair
    Porque se eu der de sambar
    Ninguém me tira daqui

    Vou balançar
    Até meu corpo cair
    Meu pé vai dar o que falar
    Não vejo ninguém pra ir

    Nada de par
    Pra me empatar, não
    Hoje eu só quero
    É me espalhar no salão

    Mas deixa estar
    Não vou fazer confusão
    Tudo que eu quero é sambar
    Até rolar pelo chão
  • Por que será

    Vinicius de Moraes, Carlinhos Vergueiro, Toquinho

    Por que será 
    Que eu ando triste por te adorar? 
    Por que será 
    Que a vida insiste em se mostrar 
    Mais distraída dentro de um bar 
    Por que será? 

    Por que será 
    Que o nosso assunto já se acabou? 
    Por que será 
    Que o que era junto se separou 
    E o que era muito se definhou 
    Por que será? 

    Eu, quantas vezes 
    Me sento à mesa de algum lugar 
    Falando coisas só por falar 
    Adiando a hora de te encontrar 

    É muito triste 
    Quando se sente tudo morrer 
    E ainda existe o amor 
    Que mente para esconder 
    Que o amor presente 
    Não tem mais nada para dizer 
    Por que será?

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Golpe errado

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Ouça, malandragem não convence 
    Uma vez a gente vence 
    Outra vez bota a perder 

    Pense, há um ditado muito certo: 
    Tem sempre um que é mais esperto 
    Tem sempre um que vai sofrer 

    Lembre que você, mesmo malandro 
    Tem que ter de vez em quando 
    Um tempinho pra viver 

    Olha que não é nada engraçado 
    Você dar um golpe errado 
    E ver o sol nascer quadrado

    Editora Musical Balaio
  • Caro Raul

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Caro Raul, tá tudo bem, tá tudo azul 
    Que tal a gente se encontrar 
    Lá por um bar na zona sul 
    Bater um papo e pôr as coisas no lugar 

    E, se puder, leve o Carlinhos, o Levon 
    Doca e Paulinho com você, pra gente ver 
    Quem é o bom numa partida de sinuca 
    Pra valer. 

    Depois podemos dar um pulo no Carreta 
    E um abraço no Luís 
    E com o Ampar saborear 
    Um vinhozinho chegadinho de Paris 

    Telefonar para o Zequinha e a Regina 
    Pra saber se a saideira que eles vão oferecer Vai ter 
    Cartola e Louis Prima até o dia amanhecer 

    E, finalmente, quando a gente estiver mesmo pra dormir 
    Numa champanhe bem gelada sucumbir 
    Erguendo a taça ao novo dia que há de vir 
    Caro Raul 

    Falado: 

    Neste choro pro Raul, Toquinho e eu mandamos um abraço fraterno pro Zé Nogueira, pra Joca e pra Luizinha, pro Elifas, que fez a capa deste disco, pro velho e querido Américo e sua Janette, pr'aquela gente maravilhosa do Concorde, lá no Rio, Zé Fernandes, o maître perfeito, o Sérgio de Souza, e lá no Antonio's, não muito distante, o Manolinho, não é? Manolinho… lá, sempre comparecendo a tudo isso, sem falar no Cayon, que ajudou a gente a armar toda essa confusão.

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Gilda

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Nos abismos do infinito 
    Uma estrela apareceu 
    E da terra ouviu-se um grito: 
    Gilda, Gilda 

    Era eu, maravilhado 
    Ante a sua aparição 
    Que aos poucos fui levado 
    Nos véus de um bailado 
    Pela imensidão 
    Aos caprichos de seu rastro 
    Como um pobre astro 
    Morto de paixão 

    Gilda, Gilda 
    Gilda e eu 

    E depois nós dois unidos 
    Como Eurídice e Orfeu 
    Fomos sendo conduzidos 
    Gilda e eu 
    Pelas mágicas esferas 
    Que se perdem pelo céu 
    Em demanda de outras eras 
    Velhas primaveras 
    Que o tempo esqueceu 
    Pelo espaço que nos leva 
    Pela imensa treva 
    Para as mãos de Deus 

    Gilda, Gilda 
    Gilda e eu

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Amigos meus

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Amigos meus, está chegando a hora 
    Em que a tristeza aproveita pra entrar 
    E todos nós vamos ter que ir embora 
    Pra vida lá fora continuar 

    Tem sempre aquele 
    Que toma mais uma no bar 
    Tem sempre um outro 
    Que vai direitinho pro lar 

    Mas tem também 
    Uma sala que está vazia 
    Sem luz, sem amor, sombria 
    Prontinha pro show voltar 
    E em novo dia 
    A gente ver novamente 
    A sala se encher de gente 
    Pra gente recomeçar

    Tonga Editora Musical LTDA